música no linux

A velha pergunta “é possível trabalhar com música usando linux?” não cabe mais. Uma pesquisa rápida na internet mostra que sim e que tem muita gente usando o linux e software livre em geral, tanto para as necessidades mais simples, como ouvir música, até para a produção musical profissional. Uma pergunta mais pertinente seria: “é viável ou vantajoso fazer música usando linux?” Com certeza não é tão simples quanto em sistemas mais comerciais, mas espero terminar este texto com bons argumentos a favor.

Em primeiro lugar é bom pensar nas vantagens do uso de software livre para qualquer fim que seja: segurança, estabilidade, gratuidade, transparência… Recomendo a leitura deste pequeno guia publicado por Fátima Conti no Outras Palavras. Usar software livre é praticar um esforço pela “liberdade de executar os programas sem restrições, a liberdade de conhecer e modificar os programas e a liberdade de redistribuir esses programas na forma original ou modificada entre os amigos e a comunidade.” Não se trata, portanto, só de ter programas de graça (sem precisar de fazer downloads piratas), mas principalmente de reconhecer que a produção digital (do software aos arquivos de imagem, texto, vídeo e som) é produção de conhecimento e que, como tal, deve ser tratada como  patrimônio público e não como mercadoria privada.

O software proprietário é dominado por empresas que nos restringem de todas as maneiras possíveis. Invadem nossa privacidade a fim de aumentar a efetividade da propaganda, limitam os dispositivos que podemos usar (por exemplo, quem não tem smartphone não pode ter whatsapp), tornam produtos obsoletos sem necessidade (obsolescência programada). Enfim, nos tiram toda possibilidade de autonomia no mundo digital. Talvez isso não seja suficientemente grave pra muita gente. Pra mim é.

Tudo isso inclui, claro, os programas de produção e edição de áudio. O Pro Tools, por exemplo, que é a DAW (estação de audio digital) mais utilizado na grande indústria e pelos grandes profissionais, apesar de ter muitas vantagens (desde as facilidades que a interface proporciona que, admito, agilizam muito o trabalho, até certo ganho de qualidade no resultado final que os ouvidos mais refinados alegam) é um software proprietário que limita os usuários em vários aspectos: preço exorbitante, incompatibilidade entre diferentes versões, incompatibilidade com plug-ins (aceita apenas plug-ins exclusivos, que por sua vez também são caros). As outras DAW’s industriais não fogem muito desse padrão: Cubase, Nuendo, Live, etc. 

Em contrapartida, existem DAW’s em código aberto como Ardour, QtractorLMMS e muitas outras. Admito que muitas são chatas para trabalhar, mas pelo menos estas três citadas funcionam muito bem e estão em constante atualização, ficando cada vez melhores a cada nova versão. E elas tendem a funcionar melhor à medida que o número de usuários cresce. Embora não tenham as facilidades um Pro tools, não são tão difíceis a ponto de assustar um iniciante em produção musical. E rendem resultados finais bastante dignos. Não sei se é uma boa metáfora, mas para mim o software livre está para o software proprietário como a bicicleta está para o carro: uma te dá autonomia, mas custa certo esforço, o outro te dá conforto, mas custa a liberdade. Eu prefiro a bicicleta.